Eu e mais

quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

LIBERDADE DE PÉS DESCALÇOS

 Houve um tempo em minha vida
Que tudo era carência e decepção
Em que ganhar presente em brinquedo
Era algo sem solução
Nem em natais nem em aniversários
Nem em qualquer outra ocasião
Pois o pouco que se ganhava
Mal dava para a alimentação.

Mas apesar do que faltava

A vida era boa de levar
Pois quando se queria um brinquedo
Nos juntávamos para inventar
E brincadeiras muitas e saudáveis
Eram feitas no quintal e no pomar
E quando a noite chegava trazia a lua,
Para outras brincadeiras iluminar

Brincávamos de pique esconde
Mocinho e bandido e de rodar
Cavalo de pau, bola de gude
Bola de meia e de escorregar
Brincávamos de cabra-cega
De três Marias e de balançar
E quando não tínhamos mais ideias
Íamos pro rio limpinho nadar

Nós tínhamos à nossa disposição
A rua, o rio e a calçada
Muitas árvores campos belos
Cavalos, a praça e a enxurrada
Havia ainda pro divertimento
Correr pelo pasto em disparada
Tudo o que precisa uma criança
Para ser livre e bem criada

Daquele tempo me lembro
Dos momentos de felicidades
Do vento batendo no rosto
Da mais pura liberdade
Dos deliciosos banhos de chuva
De respirar com qualidade
Das noites fresquinhas e límpidas
Que até hoje tenho saudade

SÓ SEI QUE SOU

Eu não queria ser o que faço
Ou não queria que me vissem simplesmente no que faço
Mas ainda assim, eu sei que sou o que faço!!!
E não faço tudo o que sou.
Mas sigo assim fazendo o que sou e sendo o que faço
Quem me dera ser um fazedor de sonhos! Um pensador medonho
Que sonha pensando e pensa sonhando
Quem me dera ser um construtor de mentes
Pois aí sim, eu faria, muito mais do que seria
Quem me dera ser um instrutor,
Instruindo o mundo, contando coisas,
Sendo muito mais do que se faz em uma vida longa centenária,
Aproveitada na função de eternizar-se pelos seus feitos.
Quem me dera ter no que fazer,
Fazer alegria, arrancar sorrisos,
Abrir mentes, encaminhar almas,
Soltar luzes para criação,
Chorar junto e curar pequenas dores.
Ah! Quem dera eu ser, além do fazer,
Poder aperfeiçoar a mente humana,
Desatar os nós da ignorância,
Auxiliar na extinção das intolerâncias
E, libertar o mundo da ineficiência.
Queria eu ser um pouco do que é ser
Um mestre, mediador,
Ser aquele que em todas as ações,
Em cada gesto de cada ato
Traz em si o dom de ensinar
Quem me dera ser,
O mestre que vejo em você,
Que com eficiência conduz,
Emana luz, encaminha, seduz

E transforma o mundo. 

terça-feira, 29 de dezembro de 2015

O crime do padre Amaro - Resumo em cordel



Vou lhes contar minha história,
Espero que possam entender
Pois sou feito da mesma carne
Que faz você se mover
Tenho sim as minhas fraquezas
Que muito me causam tristeza
Mas, sou homem para reconhecer.

A dor de uma perda gigante
Até hoje carrego na mente
Só durmo metade das noites
Por estar marcado até no inconsciente
O peso de ser causador
De uma terrível dor
A antecipada morte de um inocente

Ah! Minha vida, minha vida!
Tão triste e sem grandes feitos
Fui franzino amarelo e sem graça
Parecia estar com defeito
Cresci como órfão agregado
E recebi lá os cuidados
De uma família que tem meu respeito

Quando ainda era muito jovem
Decidiram o meu destino
Entregaram-me para a santidade
da igreja assim, desde menino.
Fui coroinha e seminarista
Fiz da religião minha vida
E tornei-me padre engajado e sozinho.

Sentia que precisava
Da proteção do celibato
Para levar minha vida digna
Com segurança e estabilizado
Pois não havia outra saída
Já que o trabalho braçal me agonizava
 me deixava estraçalhado.

Assim, fui morar em Leiria
Depois de ser ordenado
Morei em casa de D. Joaneira
Como pensionista hospedado
Foi onde vi pela primeira vez,
Um anjo na terra encarnado.

O Anjo que vi era lindo
De corpo e gestos suaves
Andava como uma pluma
Soltava flores pelos lábios
Filha bondosa e obediente
Tinha um lindo olhar inocente
E de Amélia era chamada

Ah! Quão doce eras Ameliazinha
Que em sonhos me fazia vibrar
Acendia em meu espírito as chamas
E teu nome me punha a chamar
Quando a noite apagava o dia
Deitava mas o sono não vinha
Quando dormia me punha a sonhar

Curvei-me aos encantos doces
Da moça que me acolheu
Deitava com sua imagem
Acordava com os agrados seus
Ao dar-me o alimento
Alimentava o meu tormento
De ceder ao desejo meu

Embaixo das vestes sagradas
Que um dia na ordem vesti
Pulsava o calor dos mártires
Que boa batalha quer cumprir
Fervia-me as veias em chamas
Como ferve o coração de quem ama
Querendo o desejo suprir

Lutei contra a carne infame
Briguei por ser Santo e capaz
Flagelei-me nas noites escuras
Busquei no santuário a paz
Mas os lábios a pele o perfume
A graça a doçura, o lume
As minha barreiras desfaz

Descartei do convívio o homem
Que por ordem era um rival
Usando de maneiras falsas
Descartei-o do meio como mal
Pois, homem que futrica entre beatas
Atrai para si a desgraça
E sai enxotado como animal

Então busquei esse corpo sem medo
E me entreguei ao pecado vil
Rebusquei-me em cenários oriundos
Com um sineiro pacato e senil
E foi a rebenta doente e aleijada
Que rebelde se revoltava
Pois, nosso amor um dia ela viu

Depois que a menina nos viu
Vi meu segredo desabar
Por sorte só fui delatado
Para o Cônago um "meu xará"
Que por ter também "rabo preso"
Resolveu em meu segredo
Gentilmente me ajudar

Fui às últimas consequências
Naquele delicioso amor
Arrisquei-me a cada minuto
Para sentir o seu calor
Comia, andava e bebia
Acordava, chorava e ria
Em função de Amélia meu amor

Mas, como todo pecado na vida
Há um retorno malvado
O meu não foi diferente
Recebi a notícia arrasado
Que teria eu um filho
Que triste foi concebido
Por uma mãe e um pai em pecado

Minha Amélia da pele doce
De curvas do meu paladar
Arra nquei-a do caule verde
Dei-lhe um filho sem hesitar
Tomei-a por minha posse
Como se fosse minha consorte
Mas deixei-a adormecer sem sonhar

E a menina em amor juvenil
Sofrendo com as fraquezas da carne
Foi herege nos laços da cama
Em devaneios que em seu corpo arde
Entregou-se a mim com fervor
Quis apenas ser feliz no amor
E o meu amor lhe foi cruel e covarde

Passado o susto da descoberta
Escondi Amélia dos demais
Levei-a a viver num recanto
Para ter o seu filho em paz
E depois que nasceu o menino
Entreguei-o a um malvado destino
De uma ama de leite incapaz

Quando soube que o menino morrera
Pelas mãos da mercenária
Vi meu mundo virar pesadelo
pois no mesmo dia eu já chorava
Pela morte de Ameliazinha
Que fraca não resistira
E me deixou sozinho e desconsolado

Hoje sou fruto do que plantei
Com as fraquezas do coração
Tenho muitos pesadelos
Nem sinto meus pés no chão
E busco no celibato
Pedindo perdão dos meus pecados

Esperando alcançar salvação.



O texto original escrito por Eça de Queirós, foi produzido em uma narrativa em terceira pessoa. Esse poema resumo foi produzido em primeira pessoa e como tal, tenta expressar o sentimento provável de Amaro. O que não significa que é o verdadeiro...

Capitães de areia - Resumo em cordel



Agora vou lhes contar um causo
Que um velho amigo me contou
É uma história um pouco triste
Mas também um causo de amo
Que ocorreu lá na Bahia
Uma terra de muita alegria
Na cidade de Salvador.

É a história de alguns meninos
Valentes e até desalmados
Que sofreram muito na vida
Por terem sido abandonados
E quem nos conta essa saga
Com uma emoção rebuscada
É o grade escritor Jorge Amado.

Sobre a areia da praia
E sob o ardor da revolta
Meninos se viam forçados
A seguirem caminho sem volta
Praticando o que não se devia
Roubando de noite, dormindo de dia.
Sobrevivendo como o diabo gosta.

Meninos sem lar sem ninguém.
Dormiam sob o luar.
Tinham o céu como seu teto
Como cama a areia e o mar
Comiam à beira do chão
Escapavam da lei como ladrão
Tinham como consolo sonhar.

Agrupados num bando forte
Onde todos se ajudavam
Dividiam as poucas conquistas
De um dia de dura jornada.
Trocavam tristezas e alegrias
Cultivavam sonhos e agonias
Conquistar o mundo desejavam.

No trapiche havia meninos
De toda “vicidade”
Tinha um poeta e um preguiçoso
Um sem perna atentado
Um com vocação para padre
E outro que pro crime era chamado
Havia um cangaceiro como Lampião
Um conquistador “garanhão”
E até um meio afeminado.

No bando havia um líder
Menino de pouca idade
Homem pelos seus gestos
Não temia a dureza da cidade.
Orientava seus seguidores
Enfrentava bandidos e senhores
Para o seu bando ser bem guardado.

Tinha nome sugestivo
O menino de quem se fala
Valente de “sangue nos olhos”
Não levava desaforo para casa.
Amava os seus companheiros
Era justo com seus trejeitos
O menino homem Pedro Bala.

A dureza que os consumia
Nas ruas daquela cidade
Dava-lhes muita revolta
Em ver os filhos abastados
Esnobando seus ricos bens
Enquanto eles sem pais sem ninguém
Eram vítimas da desigualdade.

E em suas almas de meninos
Que sonhavam com o que é belo
Queriam às vezes ser crianças
Brincar sem pesadelos
Queriam correr livres do mal
Como se brinca num quintal
Soltando-se nas fantasias e desejos.

Mas o destino cruel
Que os colocou ali
Arrancou-lhes do peito a esperança
Da vontade de prosseguir
E entre as tristezas e as dores
Cultivavam a falta de amores
Tinham poucos motivos para sorrir.

Um dia montou-se na pracinha
Um parque de diversão
E em seus olhos surgiram estrelas
E em suas alminhas a ilusão
De poderem se divertir
No carrossel poderem subir
Despregando seus pés do chão.

Foi naquele carrossel brilhante
Que o sonho foi realizar
Lavaram as suas almas
Soltando estrelinhas no ar
Correndo entre os cavalos
Passeando de olhos cravados
Deixando seus medos voar.

E na madrugada encantada
Que as luzes do carrossel
Despertou naquela meninada
O calor de um pedaço do céu
Eles felizes brincavam
Nada mais lhes importavam
Era como se banhar em mel.

Pedro Bala certo dia
Teve que decidir um destino
De uma menina que veio ao trapiche
Trazendo consigo um irmãozinho
E por não ter para onde ir
Fez a sua morada ali
Cheia de meiguice e carinho

A menina chegou faceira
E a todos conquistou
Com seu jeitinho brejeiro
Deu a todos muito amor
E mesmo sendo a única menina
Demonstrou que nunca afina
Nos momentos de terror.

Dora logo despertou no chefe
Que tinha fama de durão
Um certo calor amoroso
Com o sabor de uma paixão
Dissolveu as suas barreiras
E adentrou marota e faceira
Naquele jovem coração.


Mas o amor aconchegante
Que acalentava as desilusões
Os tornou amantes precoces
Sem controle da situação
Pois o amor que os engolia
Em pouco tempo se dissolvia
Deixando triste um coração.

Envolvidos num amor ardente
Envolveram-se numa confusão
Pedro e Dora foram presos
E sofreram muito na prisão
Foram espancados até quase à morte
E Dora com pouca sorte
Sucumbiu sem compaixão.

No dia em que a morte chegou
Mudando os rumos de um destino
Disseminou-se ali a tristeza
Estreitando os laços de carinho
E essa morte sedenta
Malvada um coração arrebenta
Levando o amor do menino.

Morta o amor de Pedro
A vida toma outro sentido
Com as dores que não cabiam no peito
Entrega-se ao recanto e abrigo
E o trapiche que a muitos acolheu
Nessa hora parece que morreu
E a todos deu novo destino.

Depois que a vida perdeu o sentido
Com a morte da menina Dora
Os meninos se dispersaram
E foram viver novas histórias
Cada um seguiu seu caminho
Tentando prosseguir sozinhos
Buscando cada um sua glória.

E no trapiche aconchegante
Novas histórias começavam
Vieram outras crianças
Com suas vidas marcadas
Querendo sobreviver
Sonhando em um dia ser
Homens com histórias notáveis.

E para finalizar essa história
Quero homenagear
Ao fazedor desse enredo
Que em bom lugar deve estar
Ele que sempre falava
Uma história pra ser bem contada
Não se deve tentar explicar.

E se lá no céu há hierarquia
Para os poetas e escritores
Ele assumiu um alto posto
Sendo aclamado com louvores
Pois sua bagagem intelectual
O faz ser genial
Fazendo dos Santos seus apreciadores.