Eu e mais

terça-feira, 29 de dezembro de 2015

O crime do padre Amaro - Resumo em cordel



Vou lhes contar minha história,
Espero que possam entender
Pois sou feito da mesma carne
Que faz você se mover
Tenho sim as minhas fraquezas
Que muito me causam tristeza
Mas, sou homem para reconhecer.

A dor de uma perda gigante
Até hoje carrego na mente
Só durmo metade das noites
Por estar marcado até no inconsciente
O peso de ser causador
De uma terrível dor
A antecipada morte de um inocente

Ah! Minha vida, minha vida!
Tão triste e sem grandes feitos
Fui franzino amarelo e sem graça
Parecia estar com defeito
Cresci como órfão agregado
E recebi lá os cuidados
De uma família que tem meu respeito

Quando ainda era muito jovem
Decidiram o meu destino
Entregaram-me para a santidade
da igreja assim, desde menino.
Fui coroinha e seminarista
Fiz da religião minha vida
E tornei-me padre engajado e sozinho.

Sentia que precisava
Da proteção do celibato
Para levar minha vida digna
Com segurança e estabilizado
Pois não havia outra saída
Já que o trabalho braçal me agonizava
 me deixava estraçalhado.

Assim, fui morar em Leiria
Depois de ser ordenado
Morei em casa de D. Joaneira
Como pensionista hospedado
Foi onde vi pela primeira vez,
Um anjo na terra encarnado.

O Anjo que vi era lindo
De corpo e gestos suaves
Andava como uma pluma
Soltava flores pelos lábios
Filha bondosa e obediente
Tinha um lindo olhar inocente
E de Amélia era chamada

Ah! Quão doce eras Ameliazinha
Que em sonhos me fazia vibrar
Acendia em meu espírito as chamas
E teu nome me punha a chamar
Quando a noite apagava o dia
Deitava mas o sono não vinha
Quando dormia me punha a sonhar

Curvei-me aos encantos doces
Da moça que me acolheu
Deitava com sua imagem
Acordava com os agrados seus
Ao dar-me o alimento
Alimentava o meu tormento
De ceder ao desejo meu

Embaixo das vestes sagradas
Que um dia na ordem vesti
Pulsava o calor dos mártires
Que boa batalha quer cumprir
Fervia-me as veias em chamas
Como ferve o coração de quem ama
Querendo o desejo suprir

Lutei contra a carne infame
Briguei por ser Santo e capaz
Flagelei-me nas noites escuras
Busquei no santuário a paz
Mas os lábios a pele o perfume
A graça a doçura, o lume
As minha barreiras desfaz

Descartei do convívio o homem
Que por ordem era um rival
Usando de maneiras falsas
Descartei-o do meio como mal
Pois, homem que futrica entre beatas
Atrai para si a desgraça
E sai enxotado como animal

Então busquei esse corpo sem medo
E me entreguei ao pecado vil
Rebusquei-me em cenários oriundos
Com um sineiro pacato e senil
E foi a rebenta doente e aleijada
Que rebelde se revoltava
Pois, nosso amor um dia ela viu

Depois que a menina nos viu
Vi meu segredo desabar
Por sorte só fui delatado
Para o Cônago um "meu xará"
Que por ter também "rabo preso"
Resolveu em meu segredo
Gentilmente me ajudar

Fui às últimas consequências
Naquele delicioso amor
Arrisquei-me a cada minuto
Para sentir o seu calor
Comia, andava e bebia
Acordava, chorava e ria
Em função de Amélia meu amor

Mas, como todo pecado na vida
Há um retorno malvado
O meu não foi diferente
Recebi a notícia arrasado
Que teria eu um filho
Que triste foi concebido
Por uma mãe e um pai em pecado

Minha Amélia da pele doce
De curvas do meu paladar
Arra nquei-a do caule verde
Dei-lhe um filho sem hesitar
Tomei-a por minha posse
Como se fosse minha consorte
Mas deixei-a adormecer sem sonhar

E a menina em amor juvenil
Sofrendo com as fraquezas da carne
Foi herege nos laços da cama
Em devaneios que em seu corpo arde
Entregou-se a mim com fervor
Quis apenas ser feliz no amor
E o meu amor lhe foi cruel e covarde

Passado o susto da descoberta
Escondi Amélia dos demais
Levei-a a viver num recanto
Para ter o seu filho em paz
E depois que nasceu o menino
Entreguei-o a um malvado destino
De uma ama de leite incapaz

Quando soube que o menino morrera
Pelas mãos da mercenária
Vi meu mundo virar pesadelo
pois no mesmo dia eu já chorava
Pela morte de Ameliazinha
Que fraca não resistira
E me deixou sozinho e desconsolado

Hoje sou fruto do que plantei
Com as fraquezas do coração
Tenho muitos pesadelos
Nem sinto meus pés no chão
E busco no celibato
Pedindo perdão dos meus pecados

Esperando alcançar salvação.



O texto original escrito por Eça de Queirós, foi produzido em uma narrativa em terceira pessoa. Esse poema resumo foi produzido em primeira pessoa e como tal, tenta expressar o sentimento provável de Amaro. O que não significa que é o verdadeiro...

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