Eu e mais

terça-feira, 29 de dezembro de 2015

Capitães de areia - Resumo em cordel



Agora vou lhes contar um causo
Que um velho amigo me contou
É uma história um pouco triste
Mas também um causo de amo
Que ocorreu lá na Bahia
Uma terra de muita alegria
Na cidade de Salvador.

É a história de alguns meninos
Valentes e até desalmados
Que sofreram muito na vida
Por terem sido abandonados
E quem nos conta essa saga
Com uma emoção rebuscada
É o grade escritor Jorge Amado.

Sobre a areia da praia
E sob o ardor da revolta
Meninos se viam forçados
A seguirem caminho sem volta
Praticando o que não se devia
Roubando de noite, dormindo de dia.
Sobrevivendo como o diabo gosta.

Meninos sem lar sem ninguém.
Dormiam sob o luar.
Tinham o céu como seu teto
Como cama a areia e o mar
Comiam à beira do chão
Escapavam da lei como ladrão
Tinham como consolo sonhar.

Agrupados num bando forte
Onde todos se ajudavam
Dividiam as poucas conquistas
De um dia de dura jornada.
Trocavam tristezas e alegrias
Cultivavam sonhos e agonias
Conquistar o mundo desejavam.

No trapiche havia meninos
De toda “vicidade”
Tinha um poeta e um preguiçoso
Um sem perna atentado
Um com vocação para padre
E outro que pro crime era chamado
Havia um cangaceiro como Lampião
Um conquistador “garanhão”
E até um meio afeminado.

No bando havia um líder
Menino de pouca idade
Homem pelos seus gestos
Não temia a dureza da cidade.
Orientava seus seguidores
Enfrentava bandidos e senhores
Para o seu bando ser bem guardado.

Tinha nome sugestivo
O menino de quem se fala
Valente de “sangue nos olhos”
Não levava desaforo para casa.
Amava os seus companheiros
Era justo com seus trejeitos
O menino homem Pedro Bala.

A dureza que os consumia
Nas ruas daquela cidade
Dava-lhes muita revolta
Em ver os filhos abastados
Esnobando seus ricos bens
Enquanto eles sem pais sem ninguém
Eram vítimas da desigualdade.

E em suas almas de meninos
Que sonhavam com o que é belo
Queriam às vezes ser crianças
Brincar sem pesadelos
Queriam correr livres do mal
Como se brinca num quintal
Soltando-se nas fantasias e desejos.

Mas o destino cruel
Que os colocou ali
Arrancou-lhes do peito a esperança
Da vontade de prosseguir
E entre as tristezas e as dores
Cultivavam a falta de amores
Tinham poucos motivos para sorrir.

Um dia montou-se na pracinha
Um parque de diversão
E em seus olhos surgiram estrelas
E em suas alminhas a ilusão
De poderem se divertir
No carrossel poderem subir
Despregando seus pés do chão.

Foi naquele carrossel brilhante
Que o sonho foi realizar
Lavaram as suas almas
Soltando estrelinhas no ar
Correndo entre os cavalos
Passeando de olhos cravados
Deixando seus medos voar.

E na madrugada encantada
Que as luzes do carrossel
Despertou naquela meninada
O calor de um pedaço do céu
Eles felizes brincavam
Nada mais lhes importavam
Era como se banhar em mel.

Pedro Bala certo dia
Teve que decidir um destino
De uma menina que veio ao trapiche
Trazendo consigo um irmãozinho
E por não ter para onde ir
Fez a sua morada ali
Cheia de meiguice e carinho

A menina chegou faceira
E a todos conquistou
Com seu jeitinho brejeiro
Deu a todos muito amor
E mesmo sendo a única menina
Demonstrou que nunca afina
Nos momentos de terror.

Dora logo despertou no chefe
Que tinha fama de durão
Um certo calor amoroso
Com o sabor de uma paixão
Dissolveu as suas barreiras
E adentrou marota e faceira
Naquele jovem coração.


Mas o amor aconchegante
Que acalentava as desilusões
Os tornou amantes precoces
Sem controle da situação
Pois o amor que os engolia
Em pouco tempo se dissolvia
Deixando triste um coração.

Envolvidos num amor ardente
Envolveram-se numa confusão
Pedro e Dora foram presos
E sofreram muito na prisão
Foram espancados até quase à morte
E Dora com pouca sorte
Sucumbiu sem compaixão.

No dia em que a morte chegou
Mudando os rumos de um destino
Disseminou-se ali a tristeza
Estreitando os laços de carinho
E essa morte sedenta
Malvada um coração arrebenta
Levando o amor do menino.

Morta o amor de Pedro
A vida toma outro sentido
Com as dores que não cabiam no peito
Entrega-se ao recanto e abrigo
E o trapiche que a muitos acolheu
Nessa hora parece que morreu
E a todos deu novo destino.

Depois que a vida perdeu o sentido
Com a morte da menina Dora
Os meninos se dispersaram
E foram viver novas histórias
Cada um seguiu seu caminho
Tentando prosseguir sozinhos
Buscando cada um sua glória.

E no trapiche aconchegante
Novas histórias começavam
Vieram outras crianças
Com suas vidas marcadas
Querendo sobreviver
Sonhando em um dia ser
Homens com histórias notáveis.

E para finalizar essa história
Quero homenagear
Ao fazedor desse enredo
Que em bom lugar deve estar
Ele que sempre falava
Uma história pra ser bem contada
Não se deve tentar explicar.

E se lá no céu há hierarquia
Para os poetas e escritores
Ele assumiu um alto posto
Sendo aclamado com louvores
Pois sua bagagem intelectual
O faz ser genial
Fazendo dos Santos seus apreciadores.

4 comentários:

  1. Olá Rita,
    Gostaria de te parabenizar pelo belíssimo cordel e saber um pouco mais sobre você uma vez que estou utilizando seu cordel em um projeto que estou montando. Por isso, para que possa citá-la corretamente preciso saber da sua formação acadêmica e onde trabalha atualmente.
    Muito obrigada e um grande abraço.

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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