RITA A ROSA
"És a Rita que tem a Rosa,
E Rosa de muito cheiro;
És a flor que todo jardineiro
Gostaria de cultivar.”“.
INTRODUÇÃO
Essa obra é biográfica
Mas não se trata da minha
É a história da minha progenitora
Aquela que eu chamo maínha
É uma história bem alegre
Que tem tristezas também
Afinal a vida de todos
É cheia de vai e vem
Leiam com atenção essa história
Para poder entender
Pois ela pode te fazer rir
Mas também pode te fazer sofrer.
APRESENTAÇÃO
No dia dezessete de maio
De um mil novecentos e trinta
e um
Veio ao mundo uma menina
Que igual não existe em lugar
algum
Foi a primeira entre sete
irmãos
De aura e destino incomuns
Gerada num corpo pequeno
De uma mãe angelical
Nasceu com o peso dos justos
De tamanho ideal
Regida pelo signo de touro
Valente e forte como animal
Negra como a noite
A noite que maternamente nos
acolhe
Tão bela quanto as estrelas
De brilho intenso a quem olhe
Forte como os heróis
Que boa batalha não escolhe.
RITA EM RESUMO
Vou lhe contar uma história
De uma mulher abençoada
Que apesar do sofrimento
É uma pessoa iluminada
Que passa pela vida alegre
Apesar da dura jornada
Rita Rosa de Jesus
Nome forte e vencedor
Sempre venceu os desafios
Apesar dos momentos de dor
Criar filhos foi seu carma
E a essa tarefa árdua
Ela cumpriu com muito amor
Primeiro com os seis irmãos
Que ela teve que ajudar
Quando a sua mãe Madalena
Na roça ia trabalhar
E por ser a filha mais velha
Dos irmãos ela tinha que cuidar
Seu pai era homem rude
De gesto pouco amável
Tranquilino José dos Santos
Tinha um gênio indomável
Era duro com os filhos mais velhos
Com os mais jovens era enrolável
Apesar do ranhento pai
Estar sempre fazendo careta
Ela estava sempre armando
Arrumando mil facetas
Para se livrar das broncas
Que tirava sempre de letra
Quando do lar paterno saiu
Acreditava estar se livrando
Dos desgostos que vivera
Enquanto lá esteve morando
Mas triste engano foi o seu
O calvário estava só começando
Ivo, um homem pobre de sentimentos;
Desposou-a sem hesitar
Levou-a para morar distante
Onde ela não poderia se queixar
E contar para seus parentes
Os desgostos que se via passar.
Depois de certo tempo
Vivendo naquela agonia
A menina que a inocência
Há muito já se perdia
Sofriam com os nascimentos
Dos muitos filhos que surgia
Sempre que nascia um filho
Era o mesmo sofrimento
Pois ao acabar o resguardo
Dava início outro tormento
De se ver grávida em seguida
E perder o seu alento.
Dentre todos os desgostos
Um, ela não se conformava;
Pois queria uma menina
E para isso ela rezava
Mas parece que os Santos no Céu
Suas preces não escutavam
Teve com seu esposo frio
Seis meninos muito saldáveis
Todos lindos e bem fortes
O que a consolava
Mas em seu sonho em ter filhos
A menina lhe frustrara
Apesar do grande amor
Que a seus filhos dispensava
Ela sofria muito
E ao marido desprezava
Até que num dia insólito
Resolveu abandoná-lo
Quando seu lar para trás deixou
E melhor vida foi buscar
Encontrou em sua terra natal
Um pai mais bruto para lidar
Mas, agüentou firme os tormentos
Pois, para criar os seus rebentos;
Era com o pai que ia contar.
Enquanto cresciam os seus filhos
Apareceu-lhe um pretendente
Um homem que tão velho
Despertou um interesse latente
Pois, achava que pela idade...
Não mais daria no couro o inocente
E algum tempo depois
De aceitar ser cortejada
Foi pedida em casamento
O que ela logo aceitava
Casar com o homem idoso
Que a criar seus filhos ajudava.
Primeiro enganou-se quando
Achou que Valério não daria no couro
Depois viu decepcionada
Que muitos filhos ela teria de novo
E assim completar a prole
Que seria o seu tesouro.
Depois dos primeiros filhos
Que o velho lhe fez sem demora
Ela via seu time crescendo
E os mais adultos indo embora
Para tentar ganhar a vida
Nas grandes cidades de fora.
Com o ancião bom de bico
Mais sete filhos procriaram
Sendo que vingaram quatro
Dentre eles um destacara
Em uma das últimas gravidezes
Veio a filha que tanto sonhara.
A filha que desejara tanto
Nome de Santa logo lhe dera
Por Ele deixar vingar a bela
Já que teve mais duas filhas
E só uma lhe ficara em terra.
A primeira menina morreu
Depois de um susto que tomou
De ver o seu velho marida
Ofendido de cobra - um horror!
Pensou que morreria o companheiro
Naquele momento de dor.
Mas, qual nada isso não fora;
Motivo para matá-lo
Vingou o homem que era forte
Tristeza a menina não ter escapado
Morreu por nascer prematura
E não ter medicamento adequado
Depois de ter enterrado uma filha
Outra barriga lhe apareceu
Esperou nove longos meses
E de raiva quase morreu
Pois, nascia vivo e forte...
Um menino que ela quase deu
Ia crescendo saudável
O forte e esperto menino
Chorão e muito comilão
Parecia em tamanho um bovino
Cabeludo como lobisomem
Teve traçado o seu destino.
Aí engravidou de novo
Já vivia desconsolada
Sofria em ver aquela barriga
Pois, não sabia o que esperava;
E se fosse menino outra vez:
Dessa vez jurou que dava.
Mas qual foi a sua surpresa
Deliciosa e encantada
Nasceu daquela gravidez
A menina que tanto desejara
Foi aí que fez a promessa
Para sobreviver sua filha amada
Com Santa Rita se apegou
Prometeu mil coisas sem demora
Deu a menina o nome da Santa
E dela se tornou devota
Procura ir à igreja as quintas-feiras
Que é o dia dedicado à Senhora.
Ainda teve mais uma gravidez
Que seguiu normal sem tormento
Até receber a noticia
Da morte do mais velho rebento
No qual ela quase morrera
E a filha do choque nasceu doente.
Nascia fora de hora a menina
Que quatro meses sobreviveu
Mas, teve icterícia crônica;
E médico por lá não apareceu
Morreu o inocente anjinho
E a mãe em duas perdas se envolveu
Pensa que acabou aí
Engana-se caro leitor
Ela ainda engravidou de novo
Mas já madura e fraca, não agüentou
Levar a gravidez adiante
E com três meses o feto
Naturalmente abortou
Aí sim fechou a fábrica
E foi apenas se preocupar
Em criar com dignidade os filhos
Para ao crescer lhe ajudarem
A viver bem na velhice
Quando se aposentasse.
EM RESUMO
Ela foi guerreira e forte
Orgulha-se de tudo o que fez
Criou com dificuldade
Dez bacuris de uma vez
Apesar da ajuda precária
Do seu velho marido cortês
Tentava manter ardentemente
Sentimentos nobres e tocantes
Amor, amizade e companheirismo;
Cumplicidade e harmonia constante
Para que seus filhos crescessem
Como pessoas fortes e decentes.
Ela tinha que se virar sempre
Vivia como equilibrista num cordão
Vendendo almoço para comprar janta
Para não deixar faltar o pão
Deixando os mais velhos descalços
Pros menores terem proteção.
Quando já crescidos alguns
A vida lhes parecia melhor
Já se trabalhavam juntos
Em um objetivo maior
De satisfazer todas as necessidades
E não mais de si sentir dó.
Na vida teve alegrias
Mas, teve tristezas também.
Que cercaram sua existência
O que a deixava refém
Das maldades existentes no mundo
Que lhes atingiram como a mais ninguém.
OS FILHOS
Agora eu vou descrever
Como eram os seus filhos
Afinal cresceram dez
Cada um com seu estilo
Alguns, pouca sorte tiveram:
E outros cederam aos seus destinos
O primeiro filho era José Lemos
Homem bom de espírito jovial
Estava sempre brincando
Tinha na vida um ideal
De ver sua família bem
E saiu em busca de tal.
Depois que saíra de casa
Ficou exposto ao mundo
O filho que criado com sacrifício
Acabou jogado no fundo
De uma cova grande e fria
Por culpa de um porco imundo
Mas já estava escrito
Aquele seu triste destino
Ao trabalhar de frentista
Numa cidade distante e sozinho
Um meliante o assalta
Ainda lhe tirou a vida o suíno
Morrera seu filho mais velho
De uma forma muito cruel
Defendendo um patrimônio
Que se propusera a ser fiel
Deixando a família arrasada
E a vida de todos, amarga como fel
Depois de passado o episódio
Todos se recuperaram
Pois, a luta do dia-a-dia;
Não podia ser desprezada
Mas aquela mulher tão forte
Para a vida não retornava.
Quando achou que já conseguia
Fazer algo pela sua vida
O mundo mais uma vez
violentamente
a castiga
O segundo filho morrera
E o céu que era lindo lhe sumira
Wilson o segundo filho
Tinha ótimas características
A alegria e a honestidade
Era o seu cartão de visitas
Vivia a vender felicidades
Nunca negava uma palavra amiga.
Mas a ele também Deus
Trágico destino reservou
Inocentemente dormia
Quando um amigo o acordou
Com o fuzil que estava armado
E por acidente disparou.
Wilson morreu muito jovem
Quando em soldado se formava
Estava disposto a seguir carreira
E ser militar era que sonhara
E já estava realizando seu sonho
Quando a vida lhe fora tirada.
Pensou desolada a mãe
Que o seu mundo havia acabado
Pois não suportaria mais
Ver outro filho assassinado
Não compensava criar um filho;
Depois vê-lo baleado
Depois de um tempo passado
Ainda com o coração em frangalhos
Retomou a ordem da vida
Pois, os outros filhos necessitavam;
Da sua força e proteção
Para acabarem de ser criados
Buscava o apoio de Deus
Nas constantes orações.
Rezava dia e noite
Pedindo ao Pai proteção
Para os filhos que lhes restavam
E que eram a sua consolação.
O terceiro filho Nailton
Homem bom e muito honrado
Estava sempre ajudando
Cabra bom e muito pacato
Teve sua vida mudada
Quando se tornou homem casado.
Casado teve uma filha
Seu xodó e bem querer
Não era filha de sangue
Mas o amor o fazia ser
Deu a menina o seu melhor
Sentia orgulho ao vê-la crescer.
Passou por um momento de dor
Por ter agido uma vez errado
Mas logo pagou pelo erro
E fora absolvido desse pecado
Hoje batalha para recuperar
O que já quase lhe fora passado.
Luís vulgo Bahia
É o quarto filho ditoso
Homem forte e carrancudo
De muito brio e vaidoso
Tem ideias tradicionais
Mas é um pai muito amoroso.
Saiu de casa ainda jovem
Lá constituiu família
E três filhos se pôs a criar
E mesmo depois de todos criados
Ele não pensa em descansar
Antonio que tem nome de santo
Mas de santo não tem nada
Foi o quinto concebido
Na sua dura jornada
Apesar de ser um bom moço
Teve a sina malograda.
Mesmo sendo criança pobre
Teve uma infância equilibrada
Tinha o pensamento no trabalho
À família sempre ajudava
Mas foi com as más companhias
Que o vício o dominara.
Transformou-se de repente
Num fugitivo da lei
Para manter o seu vício
Muita besteira ele fez
Entregou-se ao mundo podre
E nunca mais se refez
Para falar do sexto filho
Uma dor ao meu peito vem
Pois, teve uma infância sofrida
Que não desejo a ninguém
Já que passou parte da meninice
Longe da mãe e de quem queria bem.
Cresceu sempre maduro
Sereno como poucos são
Paciência é o seu nome
Tem um grande coração
Hoje com três filhos lindos
Jorge dá exemplo de paixão.
Trabalhou e muito se esforçou
Batalhou com sua esposa amada
Mas enquanto trabalhava muito
Não percebia o quanto gastava
Hoje vive correndo atrás
Da estabilidade desejada
O sétimo filho foi
Aquele que o mal quase consome
Foi batizado pelo irmão mais velho
Para continuar sendo homem
Pois, se assim não o fizessem
Poderia hoje ser um “lobisomem”.
Israel é o seu nome
Menino terrível que conseguia
Deixar a cidade em alerta
Quando para rua ele saía
Despertava o desespero em todos
Que com ele convivia.
Depois de se tornar adulto
E na cidade grande ir morar
Percebeu o quanto perdera
Quando só pensava em aprontar
Pois, lhe passavam as oportunidades
Por ter deixado de estudar.
Agora ele tem três filhos
Alguns netos e muito amor
Corre atrás do prejuízo
E aprendeu a dar valor
Ao estudo e a juventude
Que para ele já quase passou.
O oitavo filho foi a bênção
Aquele que toda mãe quer ter
Dedicado e inteligente
Nunca deixou de se envolver
Em todo o processo da casa
Que ele dominava sem perceber.
Hildebrando exercia papel de pai
Apesar de ser dos menores
Tomava para si as responsabilidades
Não quis ir embora
Pois, morar distante da mãe;
Nunca lhe passou à memória.
Afastou-se de casa por dois anos
Quando pensou ser chamado
Para servir a Deus e a Igreja
Como um padre engajado
Mas, descobriu bem a tempo,
Que esse não era o seu legado.
Então voltou a conviver bem perto
Daqueles que tanto amava
Protegendo-os como sempre fizera
E aos poucos conquistava
Sua realização pelo estudo
Quando se pós-graduava.
E foi na pós-graduação
Feita no Rio de Janeiro
Que ele ficou bem mais sério
E também um pouco mineiro
Como o famoso come quieto
Pois, se tornara pai solteiro.
Nasceu daí uma menina
Que se orgulhava em dizer
Que tinha uma filha linda
Seu tesouro e bem querer
A realização de seu sonho
A mais nova razão pra viver
Viveu uma vida de batalha
Como um bom ser vivente
Lutando por seus ideais
De ser sempre bom e competente
Mas sua vida foi tirada
Por um jovem delinquente
Para a mãe se repetia
Mais uma história de terror
De ter que enterrar mais um filho
Nesse mundo de horror
E essa perda lhe traria
A descrença e o pavor.
Vilebaldo é o nono filho
Que no mundo veio fazer
O papel de figurante
Pois passa pelo mundo sem ver
Que nunca se cresce na vida
Sem nas coisas se envolver
E apesar de ser do bem
É uma pedra enrugada
Precisa ainda rolar muito
Para poder ser lapidada
Talvez na próxima encarnação
Essa pedra venha reformada.
Hoje ele tem uma filha
Linda como ela só
Tem a cara cuspida do pai
Mas a aparência é bem melhor
E posso dizer que ele é um bom pai
Infantil como ele só.
A décima filha o carinho
O seu mais precioso bem
Aquela com nome de Santa
Que parece uma Santa também
Não fosse as delícias do mundo
Tê-la corrompido tão bem.
Sempre fora sapeca
E de pimenta apelidada
Vivia brincando na rua
O seu lar era a calçada
Em casa ela só dormia
E as tarefas domésticas repudiava.
Sempre foi estudiosa
Trabalho na escola nunca deu
Sempre era elogiada
De orgulho a mãe sempre encheu
Namorou pouco na adolescência
No que a mãe sempre a defendeu.
Cresceu uma menina saudável
E tornou-se mulher bem estruturada
Casou-se no tempo certo
A juventude foi bem aproveitada
Hoje tem duas filhas lindas
Além de amar e ser amada.
Apesar de ser a única filha
O seu lar materno deixou
Foi atrás de um desafio
Que ela a si colocou
De vencer na cidade grande
O que ainda não realizou
Ela tentou sempre ser forte
Fez tudo para vencer
Na cidade grande e selvagem
Que muito lhe fizera sofrer
Superando sempre as dores
Para melhor poder viver.
A MÃEZINHA
(Madalena)
Mãezinha por ser baixinha
Pequena como ela só
Suave de gestos simples
Que nunca de si teve dó
Trabalhou muito na vida
E aos filhos deu o seu melhor.
Madalena era muito esperta
E sempre filosofava
Falava das coisas bonitas
Que do mundo a encantava
E entre palavras simples
Ela um dia o viver explicava.
"- Essa vida é um ‘rumanso’
Custoso de se ‘cumpriender’ “
Explicava ela um dia
Explicava ela um dia
Indagando sobre o viver
Pois, o homem só tem na vida
A certeza é de que vai morrer.
Nesse dia ela estava triste
Pois, vira um amigo fenecer;
Esperava ela pelo dia
Da sua hora de morrer
Já que a morte estava nas redondezas
Claro que dela não iria se esquecer.
Mas não fora naquela época.
Que chegara o seu momento
Pois, sua vida prolongou-se
Seguindo o caminho do vento.
Morreu aos 94
Sem dor e sem sofrimento.
AS MORADAS
Desde o seu nascimento
Rita teve algumas moradas
Nasceu em Laje do Banco
Onde cresceu com a família amada
Morou em Ipiaú
Enquanto foi com Ivo casada.
Refez o lar em Laje do Banco
Quando separada voltou à terra
Foi onde casou novamente
Com Valeriano velho de guerra.
Lá também criou seus filhos
Soltos naquelas vielas.
Quando já sentia o lugarejo
Pequeno para educar
Os filhos menores que cresciam
E pra longe não os queria mandar
Mudou-se para Aurelino Leal
Para melhor educação lhes dar.
Onde conquistou muitas amigas
Deixou muita saudade e tristeza
Quando de lá fez a despedida
E até os dias de hoje
Lá retorna em visitas.
Então foi morar em Itabuna
Onde se juntou ao filho Nailton
Que há muito lhe convidava
Pois, a queria morando consigo.
E é com quem mora até hoje
Dividindo dores e alegrias
Para fechar essa parte
Vou lhes fazer um resumo
Já que teve várias moradas
Mas a definitiva é a de pés juntos
E enquanto estiver em terra
Aproveita passeando muito.
Aurelino foi o lar adotivo
Itabuna é a terra amada
Morou também em Ipiaú
Mas na Laje é que fora gerada
E se Deus lhe permitir
É em Itabuna que quer ser enterrada.
A PERSONALIDADE
Vou registrar nesse momento
O jeito de ser de Rita - A Fera
Que uma mulher do signo de touro
Dominante e muito sincera
Que encara qualquer parada
Nunca fugiu de uma guerra
Ela sempre despertou em todos
Um certo medo latente
Por ser muito direta
Ter um espírito dominante
Mas, tem um humor invejável,
Que faz rir qualquer inocente.
Apesar de dominadora
Tem a alma muito bondosa
Sempre ajudou os mais pobres
Doava sempre as poucas sobras
E quando alguém precisava de apoio
Procurava-lhe sem demora.
Como sempre fora pobre
E era pouco o que tinha
Para ajudar precisava
Até fazer simpatia
Mas ela dava sempre um jeito
Até reciclava o que comia
Batizou muita gente
Por ser pessoa decente
Pois, não se dá uma criança em
batismo,
A alguém que tenha o mal latente
Assim, fez mito pagão virar cristão,
Uns saudáveis e outros doentes.
A TERRA NATAL
Relembrando a terra Natal
Chamada Laje do Banco
Fica entre Gongogi e Aurelino Leal
Espremida num recanto
Apesar de pequeno e humilde
Tinha lá os seus encantos.
O lugarejo era pacato
Mas de ar muito saudável
Onde se podia correr livre
Sem se sentir ameaçado
Assim era o lugar
Onde todos foram criados.
As festas juninas eram marcantes
Tinha bebida a dar com o pau
Nesse período o lugarejo
Enchia de gente e de animal
E o forró corria solto
E o foguetório era sensacional.
Depois das festas passadas
Sempre vinham os desgostos
Dos pais de meninas-moças
Que se viam num mal agouro
De nove meses depois
Ter a paga do que fora gostoso
Na cidade também tinha
Uma característica intrigante
De se dar apelido ao povo
Por algo que lhe fosse marcante
Apelidavam as pessoas pelos seus vícios
Por seus animais e assim por diante.
Assim, existia uma Maria;
Que possuía um burrico
Chamavam-na de Maria do Jegue
E se justificava o apelido
E Chico Cotó era o homem
Que vivia com a mão no bolso metido
Ainda havia Maria Curru-Curru
Por ter uma tosse interminável
Existia também Um Chorão
Que era um sovina indomável
Tinha até um Mané sem fumo
Por causa do vício incurável.
Assim era o lugar
Exótico e diferente
Onde em cada casa da vila
Havia um fofoqueiro doente
Falava-se da vida de todos
Quase sempre inconsequentes
AS NOITES NA TERRA NATAL
Quando lá chegava a noite
E tudo escurecia
Acendiam-se os candeeiros
E a família se reunia
Para contar boas estórias
Que em muitos dava agonia
Contavam-se estórias de monstros
Castelos e bicho encantado
Também se falava em princesas
E em gente que morria afogado
Eram cobras que virava gente
Eram homens com um olho centralizado
Certo dia contou-se a história
De um menino endiabrado
Que para todo problema na vida
Ele tinha bom resultado
Até que caiu nas mãos de um homem
Que queria das suas maldades ser
vingado.
"Esse menino muito esperto
Fez o boiadeiro perder o gado
Deixando que ele colocasse
Os bois naquele profundo lago
Depois mostrou os seus patos nadando
Que para ele era o seu gado
Deu ao homem para beber
Num vaso que era um pinico
A garapa que lhe sobrara
E que havia outra hora sido
Infectado por um rato
Que dentro dela havia morrido
Depois de saber das peripécias
Que o garoto lhe havia aplicado
Saiu daquele lugar sem demora
Muito bravo e revoltado
Mas depois de um tempo voltou
Pedindo o menino ao pai emprestado.
Levou o menino para sua casa
Onde com rancor lhe ensinara
Palavras muito estranhas
Pra objetos identificados
Onde casa era trafincança
Fogo era vingança e gato era
papa-rato
Tudo isso ele ensinava
Enquanto lhe ia espancando
A cada erro do menino
Muitas “palmatoradas” ia dando
Pois, o menino as palavras não
adivinhava;
E nem sabia por que estava apanhando.
Quando dormira o malvado homem
Da vingança chegava a hora
O menino que não era bobo
Preparou-se para ir embora
Só que antes da sua partida
Deixara sua marca notória
Pegou o gato que era papa-rato
Amarrou-lhe o fogo no rabo
Ao soltar o bicho louco subiu
E foi queimar o palheiro do telhado
Colocou na porta do quarto o banco
Que de descanso era chamado
Quando já se encontrava seguro
Bem longe do fogo da peste
Gritou para o homem demente
Que dormia fazendo a cesta
Avisando-lhe sobre o que ocorria
Que ele um jeito na merda desse.
- Levanta seu Papa-Cristo
Dos braços da Fragazona
Que lá se vai o papa-rato
Com a vingança no cabo
Se não acudir com a abundância
Lá se vai a trafincança
O descanso está na porta
E eu já vou é cá.
Assim acabava a história
Que muito nos encantava
Guardamos assim na memória
Os causos que os velhos guardavam
Pois era assim que eles faziam
Pra transmitir seus legados.
O NATAL
As festas natalinas da família
Eram sempre simples e desnutridas
Como em quase todas as casas
Daquela pequena vila
Para se festejar o natal
Só se ia assistir a Missa
A Missa do Galo era o marco
Da passagem do Natal
As crianças muito empolgadas
Esperavam em vão afinal
Que um presentinho aparecesse
No sapato preparado para tal.
Mas a decepção viria
Quando acordavam bem cedinho
O sapato estava sempre vazio
Não havia nem um carrinho
E para aliviar as tristezas
Recebiam da mãe um carinho
Enquanto os vizinhos na rua
Com seus presentes brincavam
Os filhos de infância pobre
De longe observavam
E em ganhar presente do Bom Velhinho
Eles apenas tristes sonhavam.
Ganhar presente em brinquedo
Era algo que não existia
Nem em Natal, nem em aniversário;
Nem em qualquer outro dia
Pois, o pouco que sobrava das
despesas,
Apenas precariamente os vestia.
AS AVENTURAS DOS REBENTOS
Falando em pomar me recordo
De uma passagem muito engraçada
Hildebrando que era fraquinho
Mas muito forte se achava
Subiu num pé de abiu
E bem lá de cima despencara
Caiu como uma jaca madura
Mas o braço a torcer não dava
Chegou ao chão num barulho
Que a todos que ouviu assustara
E mesmo estando quase morto
Falou muito forte e corajoso
"- Não estou sentindo
nada!".
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Vilebaldo o nono menino
Odiava estudar
De tudo fizera na vida
Para da escola se livrar
De tudo fazia na escola
Menos aprender e se educar.
A mãe não agüentava mais
Na escola ser chamada
Para receber as queixas
Que toda menina reclamava
Que com um espelhinho preso ao pé
Suas intimidades ele violava.
E para ver o filho formado
Sua mãe foi se matricular
Pois, assim achava ela,
Que poderia incentivar
Além de irem à escola juntos
Seria uma atitude exemplar.
Mas não deu certo o seu gesto
Pois, sem dó ele desistiu;
Não suportava a escola
E na primeira oportunidade fugiu
Deixou a mãe estudando sozinha
E a aprender nunca se permitiu.
Um dia ele, que era ineducável;
Chorava para não ir à escola
Sua madrinha quis saber
Por que chorava ele àquela hora
Ele respondeu sem hesitar
"É maínha, minha madrinha”;
“Que não quer que eu vá para a
escola”.
Assim de nada adiantou
Ele preferiu vadiar
Abandonou os estudos
E hoje tenta comprar
Um diploma falsificado
Para melhor emprego arrumar.
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Israel o mais danado
Que só pensava em bagunçar
Perdia todo o material
Que ele tinha para estudar
Quando lhe pediam contas dos
materiais
Ele dizia "-Deixa o meu pai
chegar".
Apesar da danação
Era um menino interessado
Sabia fazer de tudo
Em nada se via apertado
E para ser hoje um bom profissional
Só faltou ter estudado.
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Luís quando era pequeno
Pegou um vício danado
Deixou sua mãe quase doida
Pois, quase morreu inchado,
De tanta terra que comeu
Deixando-o quase inutilizado.
Não se sabe qual o remédio
Que o tornara curado
Pois, foram feitas simpatias,
De tudo que fora indicado
Já que até com torrão na cabeça
Ele ficou dias e dias ajoelhado.
Mas, enfim cresceu direito,
Sem possuir graves seqüelas;
Apenas mudou os cabelos
Por ter ficado um tempo careca.
Mas isso não o incomoda
Pois, boa aparência revela.
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Lembro de um dia lindo
Dela lavando no rio
Os filhos menores com ela
Sentiam um pouco de frio
Pois, muito já mergulhara,
Naquele delicioso rio
A menina que era pequena
Em lugar fundo foi mergulhar
Com o irmão mais novo que a levara
Sem que ela soubesse nadar
E enquanto os dois atravessavam
A menina se via afogar.
O irmão desesperado
Que, nem tão grande era;
Pôs-se a arrastar a menina
Que era da sua mãe a pérola
Pois, se ela morresse afogada;
Com certeza, ele já era.
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Na vila existia uma doida
Que deixava a menina enlouquecida
Quando chegava perto da louca
Ritinha estremecia
Esse medo se justificava
Pois, a doida adotá-la queria.
Carcará era o nome da louca
Que à menina queria adotar
Sempre a pedia para sua mãe
Se aquela menina não queria lhe dar
E a mãe de uma filha só
Recusava sem pestanejar.
A menina que criou pavor
De todo louco que via
Ainda conviveu em sua vida
Com alguns doidos que marcaram os
seus dias
Teve Cu-de-Verme, Catu e Santão,
Preta; João e Maria
Dentre outros doidos excêntricos
Que por lá sempre aparecia.
CAPÍTULO XI
OS VIZINHOS
Houve muitos bons vizinhos
E aqui quero deixar registrado
D. Nicinha foi uma delas
Que pela bondade era identificada
E em quase todas as casas da Vila
Havia uma criança por ela batizada.
Dentre muitas amizades
Que Rita em jovem conquistou
Destaco aqui a comadre Lurdes
Que em muitos momentos a ajudou
Foi presente nos momentos alegres
E constante nos momentos de dor.
Não posso deixar de falar
De D. Cirila velha de guerra;
Era a companheira das missas
Juntas iam até às festas
Hoje ela apenas reza pela memória
Pois Cirila não está mais em terra.
Ainda houve muitas outras
Que lhes trouxeram alegrias
Miriam e Teresa foram duas delas
Boas companheiras do dia-a-dia
Que riam muito e faziam rir
Àqueles com quem conviviam.
E como não poderia deixar de ser
Houve também os maus vizinhos
Uns que muito brigavam
Outros que só causavam burburinho
Mas, de forma muito especial,
Serão aqui lembrados com carinho.
D. Rosa era a vizinha
Que morava em parede meia
Uma mulher de gênio forte
Espancava os filhos até com madeira
Era muito briguenta com todos
Nunca demonstrava boas maneiras.
D. Francisca é uma incógnita
Que até hoje não se descobriu
Se ela está mais pro bem ou pro mau
Pois, aos maus hábitos sucumbiu;
Uns dias ela serve de grande ajuda
Em outros é uma mulher viu.
Neste capítulo quis apenas
Destacar alguns vizinhos
Que de alguma forma especial
Muito marcaram os seus dias
Pois, muita gente boa e má;
Já passou por sua vida.
OS DIAS ATUAIS
Hoje ela vive contente
Colhendo os frutos que plantou
Tem uma legião de amigos
Muitos que ela nunca abandonou
Divide seu tempo entre os amigos e os
Santos
O que faz com muito Amor.
Ela até hoje é
Devota de Santa Rita
Agradece a Deus todos os dias
Por morar perto da paróquia dita
De Santa Rita de Cássia
A quem dedica a sua vida.
FINALIZANDO
Estou terminando minha história
Mas, sei que findada não está,
Pois, as pessoas de quem falei,
A maioria está a respirar
Então, esse causo pode ser
continuado;
Basta alguém se habilitar.
MINHA MENSAGEM FINAL
Gostaria de expressar
Com minhas próprias
palavras
Tudo de belo que pretendo
Dizer a minha mãe amada
Mas, sinto-me
incompetente,
Pois, não tenho tão doces
palavras:
Assim copiei dos versos
Do poeta Pixinguinha
Já que só lá eu encontrei
O que lhe dizer mainha
São os versos da música
Rosa
Que são dignos de uma
Rainha
"Tu és divina e
graciosa
Estátua majestosa
Do amor, por Deus esculturada
E formada com ardor
Da alma da mais linda
flor
De mais ativo olor que na
vida
''E preferida pelo
beija-flor
Se Deus, me fora tão
clemente
De luz, formada numa tela
Deslumbrante e bela
Teu coração, junto ao meu
lanceado
Pregado e crucificado
Sobre a Rosa e a Cruz
Do arfante peito teu.
Tu és a forma ideal
Estátua magistral
Oh! Alma perenal
Do meu primeiro amor
Sublime amor
Tu és de Deus a soberana
flor
Tu és de Deus a criação
Que em todo coração
Sepultas um amor
O riso, a fé, a dor.
Ensandalos olentes cheios
de sabor
Em vozes tão dolentes
como
Um sonho em flor
És Láctea estrela
És mãe da realeza
És tudo enfim que tem de
belo
Em todo resplendor
Da Santa Natureza.”
POR: RITA MARQUES.
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